Quem sustenta o pop? O trabalho invisível (e poderoso) dos fãs brasileiros

No Brasil, fã-clubes vão além da admiração: organizam, comunicam e ajudam a construir carreiras internacionais — como o caso do portal dedicado à cantora Tate McRae.

Imagem | Reproduzida do Instagram.

Quando se fala em fãs, o Brasil é um caso à parte. Aqui, não existe meio-termo: o amor é intenso, a entrega é diária e o apoio é profissional. Seja criando tags nos trending topics ou organizando mutirões de stream, os fãs brasileiros não apenas acompanham seus ídolos — eles constroem carreiras. Com o avanço das redes sociais, esse comportamento deixou de ser apenas paixão e se transformou em estratégia. E os portais de fã-clubes são hoje uma engrenagem vital na indústria pop. Eles produzem conteúdo, interagem com equipes, recebem informações exclusivas e muitas vezes são os primeiros a promover novos lançamentos. No cenário do pop internacional, uma história que chama atenção é a do portal Tate Mcrae Brasil — o primeiro fã-clube da cantora Tate McRae no mundo, criado e mantido por brasileiras.

TATE MCRAE BRASIL: UM PORTAL PIONEIRO, FEITO DE CONEXÃO

Tate McRae é uma das vozes mais promissoras do pop atual. Canadense, jovem e talentosa, a cantora viu sua carreira ganhar o mundo com sucessos como “you broke me first” e “greedy”. Mas muito antes de se tornar viral, ela já era acompanhada de perto por brasileiras que enxergavam seu potencial. Foi assim que nasceu o @tatemcraebr, o primeiro fã-clube da artista no mundo.

Uma das responsáveis por manter o portal funcionando é Isabel Knieling, de 21 anos. Ela entrou para a equipe no fim de 2024 e define a experiência como algo que vai além da tela. “A gente se ajuda, se apoia, compartilha tudo. Todo mundo ali ama o que faz. Criamos uma relação de amizade mesmo”, conta. A administradora da página também relembra que sempre admirou o esforço dos fã-clubes e via neles uma possibilidade real de contribuir com algo maior. "Eu já vi muita gente iniciando a carreira profissional com fã-clube. Com certeza essa experiência abre portas", afirma. A paixão virou função, e a função virou propósito

Hoje, o perfil é administrado por quatro jovens e o trabalho do portal é cuidadosamente dividido. O Instagram é o principal foco, mas os administradores também se organizam para manter outras redes ativas, acompanhar lançamentos, interagir com o público e garantir que todas as atualizações cheguem rapidamente aos seguidores brasileiros. Não há uma hierarquia rígida ou turnos fixos: a lógica é colaborativa. Todas se ajudam, compartilham decisões e enfrentam os desafios juntas, com base em diálogo constante. E a maior recompensa, segundo elas, é ver o crescimento da própria artista acontecendo ao lado delas.

A estrutura é voluntária: todos contribuem conforme podem, mas há uma consciência coletiva de responsabilidade. E isso faz com que o fã-clube funcione como um verdadeiro time — com propósito e paixão. Essa dedicação já atravessou fronteiras e rendeu frutos concretos: além de ser mencionado por Tate em entrevistas internacionais e shows, o portal tem contato direto com a equipe da cantora — o que possibilitou, por exemplo, a ida de Débora, uma das administradoras, ao pit do festival Lollapalooza Brasil em 2025.

RECONHECIMENTO E IMPACTO REAL

Débora Lemos, de 22 anos, é uma das integrantes do time de administradores do portal. Moradora de Uberlândia (MG), ela conheceu a cantora em 2017, mas só em 2019 se tornou realmente fã. Foi durante a pandemia que começou a se aproximar do universo dos fã-clubes, até que conheceu o portal e, no final de 2023, entrou para a equipe. Ela cuida principalmente da parte de conteúdo no Instagram e destaca que a convivência com as outras administradoras é leve e respeitosa. "Ter fã-clube é uma troca mútua, criando uma conexão com os fãs e com o próprio artista", afirma Débora, que se diz realizada em acompanhar tão de perto a evolução de Tate.

E foi esse carinho que se transformou em algo inesquecível. Débora havia ganhado um ingresso para o Lollapalooza de presente de aniversário. Decidiu tentar um contato com a equipe da cantora para avisar que estaria no show. A resposta veio semanas depois, com uma reviravolta que ela nunca imaginou: a equipe de Tate ofereceu dois ingressos para o pit, uma área VIP restrita, próxima ao palco, geralmente ocupada por convidados pessoais. O e-mail chegou às 21h30 da sexta-feira que antecedia o evento.

“Fiquei sem reação. Era inacreditável. Na hora só pensei em tentar vê-la, combinei com umas amigas, e naquela sexta, na véspera do show, ainda encontrei a Tate no aeroporto! Ela ainda postou uma foto nossa nos stories. Foi um surto coletivo”, conta, rindo.

No dia do show, ela precisou conter a emoção de estar em um dos espaços mais exclusivos do festival: a área para amigos e familiares. "Fingir costume foi difícil", brinca. Mesmo naquele lugar privilegiado, ela não esqueceu a galera da grade. Levou água, comida e apoio para os fãs que enfrentavam o calor intenso para garantir um bom lugar. "Eu entendo como é o perrengue da grade", diz, com empatia.

O segundo ingresso ela ofereceu a um amigo que também ajuda no fã-clube — um gesto que diz muito sobre como esse grupo se apoia dentro e fora das redes.

Além do contato direto com a equipe de Tate, a página também tem relação próxima com a gravadora da artista, Sony Music Brasil, o que reforça o alcance e profissionalismo do trabalho feito por fãs. A fundadora do perfil, Lua, já até trocou mensagens com a cantora e colaborou em situações estratégicas, como quando ajudou a conter o vazamento de músicas antes do lançamento oficial.

“Ser de um fã-clube é construir uma ponte entre o artista e os fãs. É criar laços”, diz Débora. Ela destaca que o portal não busca fama, mas valoriza profundamente o reconhecimento. “Quando a gente vê o artista crescendo e sabe que participou disso, é muito gratificante.”

MAIS DO QUE FÃS: PROTAGONISTAS DA INDÚSTRIA POP

O que antes era só sobre gostar de um artista virou um movimento profissional, estratégico e emocional. O portal Tate Mcrae Brasil é um exemplo de como fãs podem ser aliados poderosos, capazes de conectar pessoas, construir reputações e abrir portas. A história de Isabel, Débora e suas companheiras mostra que por trás de cada artista bem-sucedido existe uma rede de fãs que não mede esforços para ver o ídolo brilhar. E no Brasil, esse brilho é diferente. É caloroso, barulhento, intenso. E, acima de tudo, essencial.

O fã-clube é, sim, um ato de amor. Mas também é uma ferramenta poderosa de comunicação, marketing e conexão. E quando esse amor é reconhecido, vira algo ainda maior: vira história.

Se os holofotes iluminam o palco, são os fãs que garantem que ele nunca se apague.